HOMILIA - SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA APARECIDA
RAINHA E PADROEIRA DO BRASIL
Caríssimos irmãos e irmãs:
Hoje, a Igreja no Brasil se enche de alegria e fervor para celebrar a Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, padroeira e Rainha do Brasil. Essa devoção, que nasceu das águas do Rio Paraíba do Sul há mais de 300 anos, continua a sustentar o coração do nosso povo. Mais do que uma tradição, a figura de Nossa Senhora Aparecida é, para nós, fonte de fé, consolo e esperança, especialmente em tempos de crise e incerteza.
A presença materna em tempos difíceis
Este ano, talvez mais do que em outros, trazemos em nossos corações preocupações e desafios que marcaram profundamente nossa nação. Vemos o sofrimento de muitos brasileiros diante da pobreza, da violência e das tensões sociais que têm se agravado. Nos últimos meses, acompanhamos o aumento da fome, o desalento de famílias que perderam suas casas por conta de enchentes ou desastres ambientais, e uma sociedade ainda profundamente marcada pelas desigualdades. Tantos pais e mães que lutam para prover sustento aos seus filhos, e tantos jovens que, sem perspectivas, se encontram à beira do desespero.
É em momentos como esses que precisamos olhar para Nossa Senhora Aparecida, essa pequena e humilde imagem negra, como sinal de que Deus não abandona o seu povo. Assim como ela foi encontrada nas águas por pescadores simples e pobres, em um contexto de escravidão e sofrimento, Maria continua a emergir nas águas da nossa história, dizendo que Deus está conosco em nossas lutas e dores.
A figura de Nossa Senhora Aparecida é um convite para colocarmos nossas angústias aos pés de Maria, a Mãe que sempre escuta e intercede por nós. Nos Evangelhos, encontramos Maria nas Bodas de Caná, percebendo a necessidade dos noivos que estavam prestes a passar por uma grande vergonha. Ela vê o problema antes mesmo que outros percebam, e vai até seu Filho: “Eles não têm mais vinho”. Esse gesto de Maria é a expressão do amor materno que vê, cuida e intercede.
Nos dias de hoje, também vivemos situações em que parece que “não há mais vinho”: a falta de perspectivas para tantos jovens, a escassez de emprego, a desesperança que invade as famílias, a sensação de que o país está estagnado em crises repetidas. Mas Maria nos ensina a não perder a fé. Assim como em Caná, ela se apresenta diante do Senhor, pedindo que Ele olhe por nós. Nossa Senhora nos lembra que Cristo está conosco, mesmo quando não vemos a solução de imediato. Ela nos convida a sermos pacientes e, sobretudo, a confiarmos.
A fé como acalento: aprendendo com Maria
Queridos irmãos, a fé em Nossa Senhora Aparecida não é uma fé que nos aliena da realidade, mas uma fé que nos dá coragem para enfrentar o mundo e seus desafios. Maria é modelo de fé perseverante, uma fé que não se abala diante das dificuldades. Ela não foi poupada dos sofrimentos, como vemos na sua caminhada ao lado de Jesus. Maria sofreu, acompanhou a paixão e morte de seu Filho, mas permaneceu firme, confiando sempre no Senhor.
Assim, também somos convidados a manter essa firmeza. A fé em Maria e em seu Filho Jesus Cristo não significa que não enfrentaremos crises, mas que nelas não estamos sozinhos. Quantas vezes em nossa vida, quando tudo parecia perdido, uma oração sincera diante da imagem de Nossa Senhora nos trouxe o alívio, a paz e a certeza de que Deus está conosco! Em tempos de calamidade e dor, Nossa Senhora Aparecida tem sido, para milhões de brasileiros, um porto seguro, um refúgio espiritual.
A responsabilidade dos cristãos na sociedade
Celebrar Nossa Senhora Aparecida também é um convite à ação. Se Maria intercede por nós, como discípulos de seu Filho, somos chamados a ser instrumentos de transformação no mundo. A fé autêntica nos leva ao compromisso com os outros, à solidariedade, à justiça. O Brasil de hoje precisa de homens e mulheres comprometidos com a construção de uma sociedade mais justa, onde ninguém seja excluído ou esquecido.
Não podemos ser indiferentes àqueles que sofrem. A devoção a Nossa Senhora Aparecida deve nos impulsionar a seguir seu exemplo de sensibilidade às necessidades dos outros. Assim como ela percebeu a falta de vinho nas Bodas de Caná, também nós precisamos ter olhos atentos às dores do nosso povo. A caridade cristã, o compromisso com a justiça e a solidariedade são o caminho para fazermos o Reino de Deus presente entre nós.
A presença de Maria no caminho da Igreja e do Brasil
Nossa Senhora Aparecida, sendo padroeira do Brasil, acompanha os rumos do nosso país. A história de sua aparição, em 1717, é um sinal claro de que Maria caminha com os pequenos e os humildes. Os pescadores, ao encontrarem aquela imagem, talvez não tivessem ideia do que ela representaria no futuro. No entanto, Deus, que se manifesta no pequeno e no escondido, usou aquele simples encontro para transformar a história da fé no Brasil.
Hoje, ao celebrarmos a Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, somos chamados a renovar nossa confiança na intercessão de Maria, sabendo que, assim como ela esteve com aqueles pescadores, ela também está conosco, caminhando ao nosso lado, intercedendo por nós e nos apontando sempre para seu Filho Jesus.
Conclusão
Meus irmãos, ao celebrarmos Nossa Senhora Aparecida neste ano tão marcado por desafios, renovemos nossa fé e nossa esperança. Que possamos confiar plenamente em sua intercessão e permitir que seu exemplo nos inspire a ser sinais de esperança para os outros.
Que Nossa Senhora Aparecida, padroeira e Rainha do Brasil, interceda por nossa nação, por nossas famílias e por todos aqueles que sofrem. E que sua presença materna continue a nos guiar no caminho do Evangelho e da construção de um mundo mais justo e fraterno.
Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós! Amém.
Dom Ryan Dias Cardeal Alcântara
Cardeal-Arcipreste da Arquibasílica de São João de Latrão
Pregador da Revista Clerum
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Reflexão Diária
